quinta-feira, 8 de abril de 2010

Amado Filho

O dia em que este velho não for mais o mesmo,
tenha paciência e me compreendas.
Quando derramar comida sobre minha camisa
e esquecer como amarrar meus sapatos, tenhas
paciência comigo e lembra-te das horas em que
passei te ensinando a fazer as mesmas coisas.

Se quando conversares comigo, eu repetir as
mesmas histórias que sabes de sobra como
terminam, não me interrompas e me escute.
Quando eras pequeno, para que dormisses, tive
que contar milhares de vezes a mesma estória
até que fechasse os olhinhos.

Quando estivermos reunidos e sem querer fizer
minhas necessidades, não fiques com vergonha.
Compreendas que não tenho culpa disso, pois já
não as posso controlar. Penses, quantas vezes,
pacientemente, troquei tuas roupas para que
estivesse sempre limpinho e cheiroso.

Não me reproves se eu não quizer tomar banho,
sejas paciente comigo. Lembra-te dos momentos
que te persegui e os mil pretextos que inventava
para te convencer a tomar banho?

Quando me vires inútil e ignorante na frente de
novas tecnologias que já não poderei entender, te
suplico que me dê todo o tempo que seja necessário,
e que não me machuques com um sorriso sarcástico.

Lembra-te que fui eu quem te ensinou todas as coisas.
Comer, se vestir e como enfrentar a vida tão bem como
hojes os fazes. Isso é resultado do meu esforço, da minha
perseverança.

Se em algum momento, quando conversarmos, eu me
esquecer do que estávamos falando, tenhas paciência e
me ajude a lembrar. Talvez a única coisa importante
pra mim naquele momento seja o fato de ver você perto
de mim, me dando atenção, e não o que falávamos.

Se alguma vez eu não quizer saibas insistir com carinho.
Assim como fiz contigo.
Também compreendas que com o tempo não terei dentes
fortes, e nem agilidade para engolir.

E quando minhas pernas falharem por estar tão cansadas,
e eu já não conseguir mais me equilibrar...
Com ternura, dá me tua mão para me apoiar, como eu o
fiz quando começastes a caminhar com tuas perninhas tão frágeis.

E se algum dia me ouvires dizer que não quero mais viver,
não te aborreças comigo. Algum dia entenderás que isto
não tem a ver com teu carinho ou com o quanto te amo.

Compreendas que é difícil ver a vida abandonando aos
poucos o meu corpo, e que é duro admitir que já não tenho
mais o vigor para correr ao teu lado, ou para tomá-lo em
meus braços como antes.

Sempre quiz o melhor para ti e sempre me esforçei para
que teu mundo fosse mais confortável, mais belo, mais florido.
E até quando me for, construirei para ti outra rota em outro
tempo, mas estarei sempre contigo e zelando por ti.

Não te sintas triste ou impotente por me ver assim
Não me olhes com cara de dó. Dá-me apenas o teu coração,
compreenda-me e me apoie como o fiz quando começastes a viver.
Isso me dará forças e muita coragem.
Te peço meu filho,  que me acompanhes para terminar a minha jornada.
Trata-me com amor e paciência, pelo imenso amor que sempre tive por ti.

Atenciosamente,

TEU VELHO.

AOS PAIS... MÃES... e PRINCIPALMENTE...
AOS FILHOS!!!

(Levi da Silva Barreto).